Dona Denira é agricultora agroecológica
há muitos anos, mas nem sempre foi assim. Mãe de cinco filhos, ela sempre viveu
do seu trabalho com a terra, juntamente com seu marido Nourival. Porém, até os
seus trinta anos de idade, ela foi uma agricultora convencional, convivendo com
práticas agrícolas equivocadas e maléficas, não só a terra, mas principalmente
a sua saúde e de sua família.
Devido a vários problemas de saúde, os
quais Denira atribui ao uso intenso e a convivência rotineira com os
agrotóxicos, ela conheceu a agroecologia e resolveu que mudaria a sua forma de
produzir, bem como a sua relação com a terra.
Por esses motivos, além de se tornar uma
agricultora consciente, e praticante da agroecologia, ela ainda se tornou uma
militante do movimento, e por onde anda leva os ensinamentos e tenta alertar
outros agricultores dos malefícios da agricultura convencional em relação às
vantagens sistema agroecológico.
Ela começou a sofrer por intoxicação aos
30 anos, com graves infecções nas pernas. A partir deste momento ela se
identificou com a agricultura alternativa, se envolveu no movimento e acabou
colocando os filhos no movimento também.
Quem iniciou a experiência agroecológica
foi a própria Dona Denira que logo convenceu seu marido. Na propriedade, ela
mesma toma conta da horta, faz capina e separa os produtos para a entrega nos
mercadinhos. Ela consegue uma renda
extra de no mínimo 100 reais mensais, além do autoconsumo da família e do uso
para alimentar as criações.
Dona Denira ressalta a importância da
diversidade em sua propriedade, apesar do café ainda ser a principal fonte de
renda, esse ano o preço desta commodity caiu demais, aqueles que tinham apenas
o café em suas propriedades passaram muito aperto financeiro, já ela, conseguiu
obter renda comercializando outros produtos: “Em todo lugar que morei eu sempre plantei, a terra é especial. Não
fico apegada, mas sempre plantei, hoje, na terra própria, e assim, um pouco de
cada coisa, tudo misturado”! “Nunca
jogamos veneno, mas antes achávamos que era normal, só depois que vimos que o
ser humano estava sendo prejudicado é que paramos.
A dificuldade de trabalhar com a
agroecologia, segundo Dona Denira, é a vizinhança, que considera muito difícil
convencer dos malefícios dos venenos. Mesmo assim ressalta, “hoje tem muita gente trabalhando com
agroecologia por conta da gente”.
Aos poucos Dona Denira e a família foram
acumulando conhecimentos e técnicas alternativas do trato com a terra, e hoje
em dia, por exemplo, já conseguem controlar as pragas das lavouras amassando os
insetos no álcool ou na água e borrifando a mistura na plantação. Utilizam as
sementes crioulas, garantindo a semeadura para o ano posterior. Também
apreenderam a identificar e a não consumir produtos transgênicos.
A água da propriedade é pouca, vem do lote
do irmão de Dona Denira, que fica pra cima do terreno dela, em tempos de seca o
trabalho é dobrado. “Eu tenho paciência,
espero um tempo pra encher a caixa d’agua”. Existe um córrego que passa na
propriedade na parte de baixo, ela não é suja, mas a família ainda não tem uma
bomba para puxar a água.
Dona Denira será uma das beneficiárias das
hortas circulares com integração animal, que propõe um sistema sustentável,
onde os restos de folhas da horta
alimentam as galinhas e o esterco produzido por elas volta como adubo
para a horta.
Dentre as inúmeras vantagens de ser
agroecológico Dona Denira destaca a saúde.
“Você
pode panhar o alimento do pé e comer na hora.” “Não uso fogo para roçar. Mas
digo que prefiro fogo que veneno”.
Ela também destaca o gasto mínimo com
supermercado: “Só compramos o açúcar branco, apesar de termos o mascavo, pra
variar nas quitandas. Também compro sal, arroz e macarrão para os domingos,
mais nada”.