Por Rodrigo Carvalho
Entre os dias 10, 11 e 12 de maio aconteceu um intercâmbio
agroecológico entre agricultores urbanos da região metropolitana do Rio de
Janeiro e agricultores familiares da Zona da Mata. As visitas ocorreram nos
municípios de Araponga, Divino e Espera Feliz. O intercâmbio foi realizado pela
AS-PTA, Agricultura Familiar e Agroecologia, em parceria com o CTA-ZM, Centro
de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, através do Projeto Cooperar:
superando desigualdades de renda, com o patrocínio Petrobras.
O intercâmbio foi umas das atividades do projeto “Árvores na
Agricultura Familiar”, financiado pela FunBio e executado pela AS-PTA: agricultura
familiar e agroecologia, que inclui agricultores de várias partes da região
metropolitana do Rio de Janeiro, principalmente agricultores urbanos e
periurbanos. Um dos principais objetivos do projeto é realizar os intercâmbios
agroecológicos, no sentido de fortalecer a agricultura familiar. Outra proposição
é a implantação de SAF’S: sistemas agroflorestais.
A ideia do intercâmbio surgiu pela necessidade e vontade dos
cafeicultores agroecológicos de Guapimirim em conhecer as experiências de
agroecologia da Zona da Mata de Minas Gerais, em especial as experiências de
agrofloresta. Outras demandas dos agricultores era a de conhecer a história da conquista
de terra em Araponga e os circuitos de comercialização dos empreendimentos
agroecológicos da região. Segundo Renata Souto, assessora técnica da AS-PTA,
também era grande a vontade de estreitar relações entre as organizações e
agricultores, bem como a realidade da agricultura urbana aos trabalhos do
CTA-ZM. Ela destacou que “o olhar horizontal da assessoria técnica ainda é
difícil para os agricultores, pois ainda olham os técnicos como aquele vai
transformar a realidade, quando na verdade o conhecimento é produzido por eles
mesmos, por isso a importância dos intercâmbios”.
A região metropolitana do Rio de Janeiro ainda é muito frágil
no que tange a organização dos agricultores, principalmente para a luta pelos
seus direitos e acesso as políticas públicas. “Por isso mesmo a mobilização em
torno das redes de informação e até mesmo comercialização ainda é tão difícil”
exemplificou Renata. A proposta é envolver esses agricultores nos movimentos
sociais e agroecológicos.
O CTA-ZM já atua nos municípios de Divino e Espera Feliz há
pelo menos sete anos com os intercâmbios agroecológicos. Os agricultores da
AS-PTA também vieram beber dessa fonte e aprender com todo esse processo. Dentro das ações dos intercâmbios desses
municípios destacam-se a formação de grupos, mutirões, cobrança de direitos
coletivos e individuais e o fortalecimento da agricultura familiar de base
agroecológica.
Há algum tempo o CTA-ZM vem debatendo nesses municípios a
certificação orgânica e o grupo de agricultores do Rio já contam com a
cerificação de seus produtos pelo processo dos SPG’s, um sistema participativo
de garantia, formado por agricultores, consumidores e técnicos. A ideia deste
sistema é exatamente a troca de experiências.
Em Divino o grupo visitou a propriedade do casal Gilberto
Corrêa e Luciana Andrade, onde puderam observar diversas práticas
agroecológicas, como a fossa evapotranspiradora, o biodigestor e um sistema
agroflorestal implementado em uma lavoura de café arábica. Para além destas
práticas destacou-se na visita a incidência política do casal, que atua no
Sindicato de Trabalhadores Rurais do município, movimentos sociais, movimento
agroecológico, intercâmbios, mutirões e associação de agricultores.
Para Silvana Pedrone, agricultora agroecológica e membro da Associação
Agroecológica de Teresópolis “o intercâmbio está sendo muito importante, pois vamos
colher o nosso primeiro café agroflorestal. Portanto, o aprendizado aqui está
sendo riquíssimo, não só pelo manejo, mas também pelo processamento, torra e
comercialização”.
Outro destaque observado por Silvana foram as referências
conceituais de agrofloresta, já que na Zona da Mata em geral se respeita muito
o café, por ser uma tradição do estado. “Na nossa terra, por exemplo, a banana
é mais forte, aqui é o café. Isso ampliou o minha concepção sobre conceito de
agrofloresta, já que ficou evidenciado as possibilidades de construção de
sistemas consorciados respeitando as vocações e principalmente as tradições de
cada território”.
Em Espera Feliz a turma pernoitou no Centro de Formação do
Sindicato, onde jantaram e se confraternizaram ao som de moda de viola caipira
do Senhor Josias Correia e do pandeiro de bamba do Senhor Jorge dos Santos. Foi
um momento especial, de muita alegria e integração dos participantes.
Pela manhã Fernanda Henrique e Fabiano Pimentel,
representantes da Coofeliz, empreendimento visitado, fizeram uma apresentação
aos participantes, explicando como funciona a cooperativa e contextualizando a
agricultura familiar na região.
Para Fabrício Walter, agricultor e professor de sociologia, “é
marcante o avanço da cooperativa a partir do acesso as políticas públicas. Foi
bem interessante observar a estrutura conseguida e até mesmo a logística do
empreendimento. Isso nos dá ânimo para continuar a lutar por isso lá no Rio
também. Inclusive a preocupação com a autonomia, já que PNAE e PAA são
políticas públicas e podem deixar de existir, portanto a busca por outros
mercados como as redes é significativa neste processo”.
Ainda na parte da manhã o grupo visitou a torrefação da
Coofeliz, onde observaram a estrutura, os equipamentos e os processos de
produção da cooperativa. Jorge Araújo, biólogo e técnico da Coofeliz, também
explicou a história da torrefação, que a partir de um projeto da Cáritas,
conseguiram comprar os equipamentos, porém não havia ainda a estrutura física
para comportar estes equipamentos. Foi quando decidiram montá-la na comunidade
do Limoeiro, com recursos próprios da cooperativa, por ser uma comunidade mais
próxima do centro da cidade facilitando o acesso a todos os cooperados. Assim
foi feita a unidade de beneficiamento de café da Coofeliz, de acordo com as
exigências da vigilância sanitária e do interesse dos agricultores envolvidos.
Após a atividade o grupo retornou ao Centro de Formação, onde
almoçaram e em seguida fizeram uma roda de avaliação e agradecimentos,
encerrando intercambio.
O intercâmbio foi realizado com o apoio do projeto Cooperar: Superando Desigualdades de Renda,
com o patrocínio Petrobras através do programa Petrobras Socioambiental.