sexta-feira, 15 de maio de 2015

AS-PTA e CTA-ZM realizam intercâmbio na Zona da Mata

Por Rodrigo Carvalho 
Entre os dias 10, 11 e 12 de maio aconteceu um intercâmbio agroecológico entre agricultores urbanos da região metropolitana do Rio de Janeiro e agricultores familiares da Zona da Mata. As visitas ocorreram nos municípios de Araponga, Divino e Espera Feliz. O intercâmbio foi realizado pela AS-PTA, Agricultura Familiar e Agroecologia, em parceria com o CTA-ZM, Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, através do Projeto Cooperar: superando desigualdades de renda, com o patrocínio Petrobras.
O intercâmbio foi umas das atividades do projeto “Árvores na Agricultura Familiar”, financiado pela FunBio e executado pela AS-PTA: agricultura familiar e agroecologia, que inclui agricultores de várias partes da região metropolitana do Rio de Janeiro, principalmente agricultores urbanos e periurbanos. Um dos principais objetivos do projeto é realizar os intercâmbios agroecológicos, no sentido de fortalecer a agricultura familiar. Outra proposição é a implantação de SAF’S: sistemas agroflorestais.
A ideia do intercâmbio surgiu pela necessidade e vontade dos cafeicultores agroecológicos de Guapimirim em conhecer as experiências de agroecologia da Zona da Mata de Minas Gerais, em especial as experiências de agrofloresta. Outras demandas dos agricultores era a de conhecer a história da conquista de terra em Araponga e os circuitos de comercialização dos empreendimentos agroecológicos da região. Segundo Renata Souto, assessora técnica da AS-PTA, também era grande a vontade de estreitar relações entre as organizações e agricultores, bem como a realidade da agricultura urbana aos trabalhos do CTA-ZM. Ela destacou que “o olhar horizontal da assessoria técnica ainda é difícil para os agricultores, pois ainda olham os técnicos como aquele vai transformar a realidade, quando na verdade o conhecimento é produzido por eles mesmos, por isso a importância dos intercâmbios”.
A região metropolitana do Rio de Janeiro ainda é muito frágil no que tange a organização dos agricultores, principalmente para a luta pelos seus direitos e acesso as políticas públicas. “Por isso mesmo a mobilização em torno das redes de informação e até mesmo comercialização ainda é tão difícil” exemplificou Renata. A proposta é envolver esses agricultores nos movimentos sociais e agroecológicos.
O CTA-ZM já atua nos municípios de Divino e Espera Feliz há pelo menos sete anos com os intercâmbios agroecológicos. Os agricultores da AS-PTA também vieram beber dessa fonte e aprender com todo esse processo.  Dentro das ações dos intercâmbios desses municípios destacam-se a formação de grupos, mutirões, cobrança de direitos coletivos e individuais e o fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica.
Há algum tempo o CTA-ZM vem debatendo nesses municípios a certificação orgânica e o grupo de agricultores do Rio já contam com a cerificação de seus produtos pelo processo dos SPG’s, um sistema participativo de garantia, formado por agricultores, consumidores e técnicos. A ideia deste sistema é exatamente a troca de experiências.
Em Divino o grupo visitou a propriedade do casal Gilberto Corrêa e Luciana Andrade, onde puderam observar diversas práticas agroecológicas, como a fossa evapotranspiradora, o biodigestor e um sistema agroflorestal implementado em uma lavoura de café arábica. Para além destas práticas destacou-se na visita a incidência política do casal, que atua no Sindicato de Trabalhadores Rurais do município, movimentos sociais, movimento agroecológico, intercâmbios, mutirões e associação de agricultores.
Para Silvana Pedrone, agricultora agroecológica e membro da Associação Agroecológica de Teresópolis “o intercâmbio está sendo muito importante, pois vamos colher o nosso primeiro café agroflorestal. Portanto, o aprendizado aqui está sendo riquíssimo, não só pelo manejo, mas também pelo processamento, torra e comercialização”.
Outro destaque observado por Silvana foram as referências conceituais de agrofloresta, já que na Zona da Mata em geral se respeita muito o café, por ser uma tradição do estado. “Na nossa terra, por exemplo, a banana é mais forte, aqui é o café. Isso ampliou o minha concepção sobre conceito de agrofloresta, já que ficou evidenciado as possibilidades de construção de sistemas consorciados respeitando as vocações e principalmente as tradições de cada território”.
O técnico do CTA-ZM, Romualdo José, também explica o sentido e a importância da experiência do intercâmbio para os agricultores. “Eles trazem uma nova perspectiva para o futuro da agricultura em nosso país e ao mesmo tempo estabelecem uma troca de conhecimento de realidades diferentes, já que lá no Rio trabalham mais com frutas e hortaliças. Percebemos que a luta dos agricultores para de fato acessarem as políticas públicas existentes hoje, só se dará com a organização destes agricultores, que devem unir forças e ir à luta. Essa troca de saberes entre eles é fundamental para dar esperança e vida para muitas famílias”.
Em Espera Feliz a turma pernoitou no Centro de Formação do Sindicato, onde jantaram e se confraternizaram ao som de moda de viola caipira do Senhor Josias Correia e do pandeiro de bamba do Senhor Jorge dos Santos. Foi um momento especial, de muita alegria e integração dos participantes.
Pela manhã Fernanda Henrique e Fabiano Pimentel, representantes da Coofeliz, empreendimento visitado, fizeram uma apresentação aos participantes, explicando como funciona a cooperativa e contextualizando a agricultura familiar na região.
Para Fabrício Walter, agricultor e professor de sociologia, “é marcante o avanço da cooperativa a partir do acesso as políticas públicas. Foi bem interessante observar a estrutura conseguida e até mesmo a logística do empreendimento. Isso nos dá ânimo para continuar a lutar por isso lá no Rio também. Inclusive a preocupação com a autonomia, já que PNAE e PAA são políticas públicas e podem deixar de existir, portanto a busca por outros mercados como as redes é significativa neste processo”.
Ainda na parte da manhã o grupo visitou a torrefação da Coofeliz, onde observaram a estrutura, os equipamentos e os processos de produção da cooperativa. Jorge Araújo, biólogo e técnico da Coofeliz, também explicou a história da torrefação, que a partir de um projeto da Cáritas, conseguiram comprar os equipamentos, porém não havia ainda a estrutura física para comportar estes equipamentos. Foi quando decidiram montá-la na comunidade do Limoeiro, com recursos próprios da cooperativa, por ser uma comunidade mais próxima do centro da cidade facilitando o acesso a todos os cooperados. Assim foi feita a unidade de beneficiamento de café da Coofeliz, de acordo com as exigências da vigilância sanitária e do interesse dos agricultores envolvidos.
Após a atividade o grupo retornou ao Centro de Formação, onde almoçaram e em seguida fizeram uma roda de avaliação e agradecimentos, encerrando intercambio.

O intercâmbio foi realizado com o apoio do projeto Cooperar: Superando Desigualdades de Renda, com o patrocínio Petrobras através do programa Petrobras Socioambiental.



















quarta-feira, 6 de maio de 2015

Famílias de Divino recebem resultados de pesquisa feita nos quintais de suas propriedades.

Por Fernanda Lopes

Você já parou para pensar em toda biodiversidade que pode existir em um quintal? O agroecólogo Rafael Monteiro resolveu explorar a riqueza desses ambientes em sua dissertação de mestrado. A pesquisa foi concluída recentemente e agora ele está visitando as famílias pesquisadas para falar sobre os resultados que conseguiu.
Na última terça-feira, dia 05, Rafael esteve em Divino e se encontrou com os agricultores Renata Vilete de Amorim e o casal Maria Eliete e Denil Rufino. No quintal das casas pesquisadas, Rafael coletou amostras de solo, água, avaliou os tipos de plantas existentes e também estudou como os pomares e hortas podem ajudar as famílias financeiramente, além de levantar a produção para o autoconsumo. Os resultados foram bastante positivos, evidenciando o potencial da agricultura familiar da zona da mata. Além das duas famílias de Divino, também participaram da pesquisa agricultores dos municípios de Acaica e Espera Feliz.
Um dado interessante foi a agrobiodiversidade identificada nos quintais. Ao todo foram observadas 161 espécies, mas apenas cinco foram comuns em todos os espaços (abacate, acerola, ameixa, banana e mamão). Quanto a isso, Rafael sugeriu que haja mais trocas de sementes, mudas e estacas entre os vizinhos para tornar cada vez maior a variedade de plantas nos quintais. 

Outros dados interessantes levantados pelo pesquisador dizem respeito à relação entre o trabalho feminino nos quintais e a geração de renda. Uma das famílias de Acaiaca, por exemplo, alcançou o expressivo resultado de aproximadamente 15 salários mínimos em um período de 10 meses.
Rafael também apresentou as análises feitas no solo e na água utilizada para irrigação das plantas. Eliete disse que esse tipo de atividade traz muitos ganhos para os agricultores e agricultoras, já que eles podem conhecer melhor as características da propriedade, corrigir o que não estiver muito bom e aprender maneiras de melhorar a produtividade dos quintais.

Durante a pesquisa, Rafael usou diversas metodologias, como a avaliação participativa, turnês guiadas pelos quintas e a confecção de mapas das propriedades feitos pelos próprios agricultores e agricultoras. Ele optou por esses métodos porque permitem o contato mais próximo com as famílias.
As visitas e oficinas realizadas durante a pesquisa aconteceram em parceria com o Projeto Cooperar, ou seja, foram executadas pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata com patrocínio da Petrobras. O objetivo é melhorar a produtividade e a renda da agricultura familiar nos municípios de Acaiaca, Divino, Espera Feliz e Muriaé.