Por Rodrigo
Carvalho e Fernanda Lopes
No fim de 2013 o Projeto Cooperar, superando desigualdades de renda, surgiu com a
proposta de ajudar cooperativas e associações de pequenos produtores da zona da
mata mineira. Patrocinado pela Petrobrás, por meio do programa Petrobrás
socioambiental, o projeto busca promover a geração de renda a partir da
inclusão produtiva e acesso a mercados de agricultores e agricultoras
familiares dos municípios de Acaiaca, Muriaé, Divino e Espera Feliz.
Desde o início, o Cooperar prevê a
instalação de três padarias comunitárias nos municípios de Divino, Muriaé e
Acaiaca. Em Muriaé a parceria acontece com a Cooperativa dos Produtores da
Agricultura Familiar Solidária (COOPAF). A padaria será gerenciada por um grupo
de mulheres cooperadas da comunidade de São João do Glória.
Apesar dos equipamentos ainda não terem
sido entregues, as mulheres da
comunidade já estão com a mão na massa faz tempo. Elas vão receber equipamentos
para facilitar a produção das quitandas, mas antes elas estão participando de
cursos de capacitação. Já foram três etapas do processo e as mulheres tiveram
oficinas que vão das boas práticas na hora de fabricar os produtos até
orientações de como organizar o negócio.
Elas ainda estão no começo da
preparação, tem muita lenha pra queimar antes de colocar os pães no forno. O
processo pode até ser um pouco longo, mas também é muito prazeroso e
extremamente necessário, porque cada fase é um aprendizado diferente e
significa mais um passo em direção à padaria pronta. A nutricionista Sabrina
Murayama vem acompanhando de perto essa preparação. Para ela, essas oficinas
“têm grande importância para que esse projeto tenha continuidade, se realize
depois da chegada dos equipamentos.” Sabrina ainda destaca a necessidade de
atividades mais técnicas, como dicas de gestão de negócios, já que “as mulheres
dessa comunidade têm prática na realização de receitas para seus familiares, no
entanto elas não têm nenhuma experiência de comercialização, de venda, de
trabalhar essas receitas em volume maior, nunca pensaram como seria essa
logística. Nessas oficinas a gente tenta prepara-las para que consigam driblar
algumas dificuldades que o mercado apresenta para qualquer empreendedor”.
As participantes são agricultoras
familiares e os produtos que serão feitos têm ingredientes agroecológicos
produzidos pelas próprias mulheres, como ovos caipiras, abóbora, mandioca,
milho, entre outros, resgatando receitas que são tradicionais na região.
Segundo Nina Abigail técnica do projeto
a “proposta da padaria é contribuir na autonomia e na geração de renda das
mulheres, a expectativa é que os produtos sejam comercializados via cooperativa
(COOPAF) para a alimentação escolar e também para feiras agroecológicas no
município. Os próximos passos serão uma capacitação para definição dos preços,
embalagens e estratégias de comercialização. Ainda será trabalhada a coesão do
grupo, incluindo sonhos e perspectivas de cada uma delas”.
Sabrina Murayama avalia a participação
das mulheres de forma muito positiva. “Elas
estão lá só pelo sonho, elas não viram nada acontecer ainda. Elas saem da
realidade, do dia a dia e vão pra oficina para sonhar com um futuro melhor, com
o que essa nova atividade pode trazer para as famílias delas, pra valorização
do próprio trabalho da mulher nesse ambiente familiar. Eu visualizo isso de uma
forma muito positiva, essa vontade que elas têm de apostar num projeto, de
confiar na gente e se entregar para uma nova atividade que vem surgindo na vida
delas”.
E a Sabrina está certa em acreditar no
sonho das mulheres. A trabalhadora rural Conceição Freitas participou das três
oficinas que já aconteceram. Ela, que faz delícias como bolo de casa de banana,
pão integral e biscoito de nata, disse que ainda tem muita coisa para aprender
e que sonha em ter o negócio próprio das mulheres da comunidade.
A diretora administrativa da COOPAF,
Adriana Aparecida Ribeiro destaca que “está sendo uma novidade para elas, além
de uma oportunidade de geração de renda, porque na comunidade as mulheres estão
tendo dificuldade de conseguir renda direto da produção. Essa questão do
panificado vem pra fortalecer, tanto no empoderamento das mulheres quanto na
complementação da renda, da família. Quando trabalhamos em grupo com essas mulheres,
também trabalhamos a autoestima, o diálogo e então estamos com a expectativa
muito boa”.